15/10/2013

Entrevista com Paulo Avila

Paulo Avila é autor dos livros de poesia "Devaneios", pela Paco Editorial, e "Despido", pela Editora Multifoco, e do romance "Lembranças de Cássia", pela Editora Interagir.
O autor também é professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira na Rede Estadual de Ensino, de Português instrumental e Literatura na formação do leitor no curso de Pedagogia e é titular da cadeira 21 da Academia de Letras de Vassouras.
Particularmente, tive uma experiência muito boa ao conversar com o autor, ele é realmente uma pessoa inteligente e mostra toda a sua paixão pela literatura.
Vamos, então, à prazerosa conversa com Paulo Avila. 

Estante Insólita - Como você descreveria o seu estilo poético?


Paulo Avila - O meu estilo poético é pós-moderno, trabalha muito a questão do “eu”, o “eu” que é individual, mas ele múltiplo, é fragmentado, é dolorido, sofrido, ele sonha, chora, sorri. Na minha poética, tem um único eu-lírico, ele é andarilho, há momentos em que ele cai, em que ele se levanta, em que ele morre, ressuscita e tem uma linguagem ultrarromântica, mas ao mesmo tempo, é pós-moderno, muito fragmentado.


EI - Seus dois primeiros livros foram escritos em forma de verso e o terceiro, em prosa. Como é “pensar” em verso e “pensar” em prosa?

PA - Escrever poesia, para mim, é mais fácil, embora tenha que trabalhar figuras de linguagem, a questão visual do poema, há essas particularidades, mas eu gosto mais, me identifico mais com a poesia. E o romance é um desafio, porque o autor deve inventar os personagens, criar situações, imaginar um fim para aquilo, mesmo que seja um fim inconcluso, mas tem que ter um fim, o leitor tem que ler até o final e pensar alguma coisa daquilo: “Puxa, e agora?”. Como em Lembranças de Cássia, que tem um dilema: ela morre ou não morre? Ou seja, a história te leva a um fim, a poesia não, ela é um meio para você se expressar, não chega a um fim; há questionamentos, mas não te leva a esse fim. O romance não, o leitor espera um final e o final pode ser frustrante, porque ele sempre espera um final feliz ou espera que as coisas se resolvam de uma forma mágica. Às vezes, não há muitas respostas no final, o leitor espera sempre algo a mais no romance, então o cuidado com a prosa é muito maior, para mim.


EI - Comparando um eu-lírico inconformado com o próprio destino e um eu-lírico exposto ao sofrimento, mas que aceita suas moléstias, qual você prefere?


PA - Eu acho que a minha poética transita entre estes dois polos, ele é um eu lírico inconformado com o destino, tanto que ele quer gritar, às vezes, mesmo que um grito silencioso, mas ele grita e tem momentos em que ele para: “a vida é assim, as coisas são assim, são imutáveis”, então sofrimento é inerente ao ser humano. Como nós somos, ele tem dois polos, ele transita entre a negatividade e a tentativa de mudanças, por isso eu digo que a minha poética é pós-moderna, o indivíduo está fragmentado, então eu não sou só o Paulo que é professor, sou o Paulo professor, sou o Paulo poeta, sou o Paulo roqueiro, sou o Paulo casado, o Paulo católico, sou o Paulo que questiona, então essa é a visão pós-moderna, o ser humano é inconcluso e é fragmentado, e a minha poética é assim também, o eu-lírico não é só inconformista, mas ele também se deixa abater pela realidade e cai por terra, e se levanta também muitas vezes.

EI - Como você vê a produção literária na região Sul Fluminense?

PA - Eu sou membro da Academia de Letras de Vassouras, então eu posso falar, mais ou menos, por ela. Há pessoas que trabalham, que fazem poesia, gostam da poesia, como a Gilda Meireles, de Vassouras, ela escreve poesia há muito tempo. Agora eu acho que, hoje, a poesia não tem o devido valor, as pessoas não gostam muito de poesia, o romance chama muito mais atenção do que a poesia, então eu acho que na questão sul fluminense ainda está meio fraco, a questão da poesia mesmo, ainda tem gente fazendo, produzindo, mas não aparece muito. O meu livro, por exemplo, poderia ter muito mais visibilidade, por eu ser um poeta da região, eu acho que poderiam conhecer mais a poesia, mas eu espero que isso mude.
Ferreira Gullar diz que as editoras são loucas quando investem em poesia, se bem que ele tem nome, para ele é fácil falar, mas ele vê que a poesia hoje é um "tiro no pé", porque as editoras não investem muito, não tem público, então a gente vive de sarau, às vezes, vai ao Sarau e divulga, recita um poema, tem até em Vassouras o Sarau Itinerante, feito pela Lourdes Valadares, uma vez por mês, mas eu acho pouco ainda, em questão de poesia.

EI - Quais poesias de sua autoria você considera as melhores?

PA - Devaneios” foi um grito, tudo o que eu queria escrever está em Devaneios, embora de forma bem inocente, porque eu queria produzir, colocar para fora, então eu fiz Devaneios, tem poemas que eu gosto muito nele, mas eu acredito que eu cheguei à melhor forma em Despido, que contém meus melhores poemas, que são: Despido, Porvir que não há de vir, Novo dia, Negação, Sem amanhã, Vida simples, Acasos, Caminhos, Dor e agonia, Tempo escasso, Nudez, Morte e vida à poesia, Alma em dez cantos, Submundo, Vida e Limite, eu gosto de quase todos os poemas de Despido.
Agora “Devaneios” é meu filho problemático, a maioria gosta de “Despido”, tem algumas pessoas que gostam de “Devaneios”, ele é muito irregular, eu confesso, mas, nele, há alguns que eu gosto, são: Fragmentos, Alto Mar, Antes e depois, Alguns devaneios, Coisas do tempo, Reflexões da Alma. Eu gosto menos dele, mas ele tem poemas bons também, ele tem força.


DEVANEIOS
"Aqui, abre-se uma alma.
Não de confidências.
Não de inconfidências.
Talvez incoerente
e, mesmo assim, sincera.

Subjetiva e universal.
Pré e pós-mim.
Tudo.
Nada.
Algo.
Resquícios daninhos que brotaram do jardim abandonado.

Pelo concreto
desfaz-se em devaneios
uma poética de quarto fechado,
alimentada por versos inventados à meia-luz
de lugar algum ou de algum lugar pantanoso do inconsciente, inconsistente,
entre um vinho tinto de um não-alcoólatra deixado à mesa sem provar
e um contrato de letras prostituídas
para consumo popular.

Desejo pseudointelectual de glória bastarda,
migalhas pagas para sobreviver
em nome da arte
que esquece o poeta,
assassina a musa
e faz do eu lírico
um ser-fantasma num mundo material
que já não suporta mais sentir.

Sentir?
Devanear?
Ser louco?
Não sei.

Produção imperfeita de sonhos abstêmios que se vão,
que se partem
e cortam
como navalha
na carne,
sangram,
singram,
suam,
produzem
vozes-fragmentos
da alma
impura.

Ah!...
Minha luxúria,
meu pecado literário
padecem
num hospício,
buscando a libertação
pela palavra-protesto!...

E nada mais."
(Paulo Avila)



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